Enquanto a maioria dos setores sofre os efeitos da crise econômica que veio a reboque com a pandemia, o mercado imobiliário comemora alguns dos melhores resultados dos últimos anos – especialmente no mercado de luxo e alto padrão. Em Santa Catarina, construtoras registraram aumento expressivo nas vendas de imóveis nesse nicho, do ano passado para cá. Para os corretores de imóveis, a procura subiu pelo menos 30% a partir de 2020.
A combinação entre baixa de juros, redução no retorno dos investimentos bancários e a adesão ao home office fizeram dos imóveis a bola da vez – não apenas para quem está em busca de uma nova moradia, mas também para quem quer investir. Sérgio Luiz dos Santos, presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SC), avalia que, em 2020, esses fatores aqueceram o mercado como um todo. Nestes primeiros meses de 2021, no entanto, a venda de imóveis mais baratos parece ter estabilizado, enquanto os mais caros seguem em alta.
Sem possibilidade de gastar em férias e viagens ao exterior, os mais ricos encontraram nos imóveis uma maneira segura de investir na pandemia. Um caso emblemático foi o da Vokkan Urbanismo, que tem projeto de um bairro parque em Porto Belo, no Litoral Norte. Lançada para venda em outubro de 2020, a área de imóveis unifamiliares do empreendimento foi 100% comercializada em apenas sete horas. Um recorde.
Corretores relatam que os clientes que chegaram com a pandemia são especialmente investidores, a maioria industriais e empresários do agronegócio, que tiveram um ano bom – e muito lucro – com o aquecimento das exportações. São pessoas que buscam oportunidades de bons negócios em SC, especialmente no Litoral. As regiões de Florianópolis, Itapema e Balneário Camboriú estão entre as mais procuradas.
Mas também há um perfil de cliente que, com possibilidade de trabalho remoto, escolhe um local com melhor qualidade de vida – e Santa Catarina sai na frente.
– A procura aumentou por motivo da pandemia, principalmente. O público ‘A’ está buscando por um melhor cidade, um melhor lugar e um melhor imóvel para viver, ocasionado pelo maior tempo em casa e pelo home office. Quem tem possibilidade de se instalar melhor, realiza isso – diz Patrícia Hartmann, gerente comercial da WOA Empreendimentos Imobiliários, que atua na Capital. A empresa registrou aumento de 60% na procura por imóveis, desde o segundo semestre do ano passado.
Para especialistas, a disparada do mercado de alto padrão, que inclui os imóveis cujo preços ultrapassam os sete dígitos, é consistente e deve seguir ao longo de 2021. Alguns economistas apontam para a possibilidade de um novo boom do mercado imobiliário, como o que foi visto entre os anos de 2008 e 2013.
– Com a taxa de juros básica próximo das mínimas históricas, juros para financiamento imobiliário também se encontram baixos, aumentando o apetite pelo setor. Outro motivo importante para o crescimento, também atrelado aos juros baixos, é que os investimentos mais conservadores, que respondem à maior parcela dos investimentos dos brasileiros, como a poupança, estão rendendo pouco. Com isso, quem tem recursos aplicados nesses investimentos está optando por migrar para outros mais rentáveis, como imóveis. A própria bolsa de valores, que bateu recorde de investidores em 2020, reflete esse novo cenário – diz o economista Guilherme Alano, da Siglo Investimentos.
As construtoras catarinenses surfam a onda. É o caso da FG, uma das mais conhecidas empresas especializadas em mercado de luxo no Sul do país, que entregou sete empreendimentos em Balneário Camboriú em 2020, em plena pandemia – entre eles o Infinity Coast, atualmente o residencial mais alto do país, com 232 metros de altura. Dos mais de 500 apartamentos finalizados pela empresa no ano passado, 90% estavam vendidos antes da conclusão das obras.
– Nos últimos seis meses de 2020, a empresa registrou números expressivos de vendas VGV, com um crescimento de 127% de maio a outubro, comparado com o mesmo período de 2019. Com seus números, alavancou o mercado imobiliário de luxo no sul do país – avalia Altevir Baron, diretor de mercado e marketing da FG.
O otimismo no setor faz com que a construtora tenha projetado um rol de lançamentos que soma R$ 3 bilhões para os próximos dois anos, na região de Balneário Camboriú. Entre eles, um prédio com mais de 100 andares, que será o mais alto da América do Sul.
Foto: Paulo Silvio Pereira, Arquivo Pessoal
Foto: Divulgação FG
Fonte: NSC Total – Dagmara Spautz – Por Dagmara Spautz