Achada com sinais de maus tratos, a dócil Luna virou o xodó dos policiais que a resgataram.
Sem água e comida há dias, ela aguardou pacientemente a chegada de alguém. Não tinha forças para se livrar da corda que a prendia, então esperou. Era tarde de segunda-feira quando percebeu uma movimentação estranha. De repente, três policiais militares apareceram subindo o morro. Talvez tenha torcido para que a enxergassem, mas nem tinha forças de demonstrar alegria quando a encontraram. Um dos policiais lamentou, pensou que ela não conseguiria sequer dar alguns passos. Mas foi forte e andou até a casa.
Ali, tentou deitar. Fracassou. Era só pele, osso e as feridas, que visivelmente a incomodava, deixavam sua aparência ainda pior. Os policiais perceberam o desconforto e a colocaram em um sofá. Tinha medo do que aconteceria, mas essa era a única esperança de sair daquela condição. Foi assim que ela deu a eles o olhar mais agradecido que conseguiu, pois sabia que não voltaria àquele lugar.
O relato ilustra a história de uma cachorrinha que foi resgatada pela Polícia Militar de Itapema na segunda-feira. Desnutrida e muito debilitada, a cadelinha foi acolhida pelos policiais que atenderam a denúncia e levada até o quartel, onde foi alimentada. Dos PMs, ganhou até um nome: Luna.
O resgate ocorreu na Rua 706, no bairro Várzea, após a PM receber uma denúncia através do grupo de Whatsapp que mantém com a comunidade. A cachorrinha foi encontrada quando os agentes iam verificar os galinheiros que ficavam em um morro atrás da casa para dar comida aos bichos. Estava amarrada, sem água e comida, em avançado estado de desnutrição. Um dia antes o dono da casa foi preso com um quilo e meio de maconha.
Os policiais se sensibilizaram com a situação e levaram Luna até o quartel, onde recebeu ração e água. Durante a noite o vigia percebeu que ela não se alimentou direito e entramos em contato com um veterinário para fazer o tratamento explica o comandante da PM de Itapema, tenente Geraldo Rodrigues Alves Junior.
O veterinário Vicente de Paula Lima Neto estima que o animal sofria com maus tratos há mais de 30 dias. Ontem, Luna começou a receber os primeiros cuidados médicos o tratamento deve durar pelo menos um mês. A equipe da clínica está tratando as feridas causadas por uma mosca e um exame de sangue confirmou o quadro de anemia severa e também uma infecção bacteriana. Não se descarta a possibilidade de Luna receber uma transfusão de sangue.
Neto conta que a cachorrinha tem entre seis e sete anos e é muito dócil. O veterinário diz ainda que é comum ocorrerem casos de maus tratos na cidade, porém boa parte não chega a receber cuidados médicos.
Todos os dias fazemos castrações de animais e temos uma parceria com cuidadoras. Não cobramos os serviços, porém sempre precisamos de apoio para pagar o laboratório conta.
No caso de Luna, parceiros da clínica já viabilizaram os recursos para pagar os exames. A PM também informou que várias pessoas manifestaram interesse na adoção do bichinho.
Denúncias por maus tratos aumentaram na cidade
A fiscal de meio ambiente da Fundação Ambiental Área Costeira de Itapema (Faaci), Bárbara Fratini da Silva, diz que nos últimos três meses o número de denúncias de maus tratos contra cães aumentou. Somente em agosto, ela estima que foram registrados pelo menos 10 casos. Porém, nem todos acabam sendo notificados.
Nesse período fizemos apenas duas notificações. Em alguns casos, a denúncia acaba não se confirmando e em outros conversamos com o proprietário e ele aceita parar com os maus tratos explica.
Bárbara relata ainda que a maioria das denúncias recebidas pela fundação é com relação a cavalos e a aves. Nos casos em que o proprietário continua cometendo o crime, o órgão pode aplicar multa.
Fotos: Marcos Porto / Agencia RB
Fonte: O SOL DIÁRIO – Maikeli Alves