Desvio de água no Rio Perequê, em Itapema, levanta suspeita

Os dois tubos por onde passavam as águas de um afluente do Rio Perequê (conhecido popularmente como Mansinho), sobre a Estrada Geral do Sertão do Trombudo, em Itapema, estão fechados. Pilhas de madeira e lama impedem que o curso d’água siga seu caminho natural. Do outro lado da rua, um filete de água corta o que hoje é mais barro e lodo. Nem os peixes aparecem mais por ali. Logo ao lado, dá para ver as águas entrando na lagoa de captação que abastece Itapema.

O Rio Perequê é a principal fonte de abastecimento das cidades de Porto Belo e Bombinhas. E esse desvio seria ilegal. É o que garante um relatório feito por técnicos da Casan, Fundação de Amparo ao Meio Ambiente de Bombinhas (Famab), um engenheiro ambiental e um biólogo. O documento foi enviado à Câmara de Vereadores de Bombinhas, que promete tomar uma medida judicial contra a Águas de Itapema. Os rizicultores do Sertão do Trombudo devem fazer o mesmo.

Um tubo instalado logo ao lado dos que hoje estão bloqueados joga água para a lagoa da Águas de Itapema. Produtores de arroz da região, que chegaram a ser acusados de terem desviado o curso do rio, preferem não aparecer, mas informaram que o desvio foi feito no fim de dezembro.

Chegaram a divulgar na imprensa que nós éramos os culpados. Mas porque a gente faria um desvio para dentro da lagoa deles (Águas de Itapema)? questiona um agricultor, que não quer se identificar com medo de represálias.

Na época, isso aqui ficou cheio de urubus, aproveitando para comer os peixes que estavam mortos conta um deles. A situação é perceptível para qualquer um que estiver no lugar e foi comprovada por um relatório produzido. Aliás, há divergências até na nome do curso d’água.Os rizicultores garantem que ele já é o Rio Perequê, mas a Polícia Ambiental e a Águas de Itapema dizem se tratar de um afluente.

Moradores reclamam da falta dágua

Em meio ao impasse, quem paga a conta é a população. Moradores de Bombinhas disseram que muitos turistas foram embora, no fim de ano, por causa da falta de água. Dona Isabel da Silva Souza mora há 17 anos na cidade e disse que nunca viu nada parecido:

Faltar água aqui no verão é normal. Mas esse ano foi demais. Ela trabalha como faxineira em uma pousada e também é zeladora de algumas residências, na Praia de Bombinhas.

Na tarde desta sexta-feira, pensou em limpar algumas dessas casas, mas a falta d’água fez ela mudar os planos. O jeito foi aparar os arbustos.

Enquanto isso, o serviço vai acumulando lamenta. Não é só no trabalho que dona Isabel sofre. Na casa dela, que fica no Bairro José Amâncio, a família não ficou sem água ainda porque o marido de Isabel improvisou.

Ele pegou uma caixa de 500 litros emprestada do vizinho e comprou um motor para bombear para casa. Como somos só eu, ele e uma filha, e todos trabalhamos fora, não chegamos a sentir tanto. Mas já aconteceu de ter de usar água mineral para cozinhar.

Engenheiros ambientais de Bombinhas analisam caso

Técnicos da Fundação de Amparo ao Meio Ambiente de Bombinhas (Famab) estiveram no Sertão do Trombudo, em Itapema, na manhã de quinta-feira. O objetivo da visita, acompanhada de vereadores e de representantes da Casan, era verificar a situação do desvio, e um relatório técnico foi enviado para a Câmara. Segundo o documento, foi possível constatar que o curso d’água foi desviado e que o fluxo foi interrompido no rio que o órgão municipal considera ser o Perequê. Com isso, diminui o volume repassado a Bombinhas.

A tubulação que permite passagem da água está obstruída por tábuas e material de entulho. O impacto para nós é enorme, porque dependemos deste rio para o abastecimento destaca o engenheiro ambiental da Famab Elton Gonçalves, que acompanhou a vistoria.

O Ministério Público será notificado nos próximos dias, e a prefeitura de Bombinhas estuda uma ação judicial contra a empresa Águas de Itapema. As administrações municipais de Bombinhas, Porto Belo e Itapema também devem se reunir para buscar uma solução para o problema.

Empresa e Polícia Ambiental discordam

Em nota oficial, a Águas de Itapema diz que os vereadores de Bombinhas não têm conhecimento técnico sobre a captação de água na área do possível desvio. A empresa afirma que o manancial não é do Rio Perequê, mas sim de um afluente _ o Mansinho _ que normalmente abastece apenas a lagoa de acumulação de Itapema. O que ocorre, conforme o texto, é que em tempos de estiagem manobras foram feitas para liberar para Porto Belo parte da água que iria apenas para Itapema.

A empresa reitera ainda que as ações feitas no local são de conhecimento da Polícia Ambiental e tem licenciamento. A Fundação Ambiental Área Costeira de Itapema (Faaci) também afirma que não há desvio. O presidente da Fundação, Leonardo Nunes, informa que técnicos do órgão confirmaram que o rio se trata do Mansinho, e que não há irregularidade no local.

Existe um acordo de cavalheiros entre Itapema e Porto Belo, mas não há obrigação deste rio ser usado para abastecer as cidades vizinhas. Por isso o que foi feito ali é um bloqueio em razão da lagoa bruta estar com pouco volume em Itapema detalha.

De acordo com a Polícia Ambiental, porém, a ação no Rio Mansinho tem sim problemas. O comandante Enio Sérgio Nedochetko diz que será entregue na segunda-feira um processo ao Ministério Público de Itapema em que consta uma autuação à empresa. O documento aponta que houve irregularidade no represamento de água nas últimas semanas, no Rio Perequê e em seus afluentes.

Foto: Marcos Porto / Agencia RBS
Fonte: Julimar Pivatto e Victor Pereira julimar.pivatto@osoldiario.com.br e victor.pereira@osoldiario.com.br – O SOL DIÁRIO