SC supera 10 mil mortes por covid-19 no dia em que completa um ano da 1ª vítima

SC supera 10 mil mortes por covid-19 no dia em que completa um ano da 1ª vítima

Estado levou apenas 8 dias para saltar de 9 mil mortes para 10 mil neste mês(Foto: Rogério Galasse / Futura Press / Folhapress)

Estado confirmou mais 187 mortes nesta quinta-feira, chegando ao acumulado de 10.108.

No dia em que Santa Catarina completa um ano desde a primeira morte por covid-19, o Estado supera a marca expressiva de 10 mil óbitos causados pelo coronavírus. Foram confirmadas nesta quinta-feira, 25, 187 novas vidas perdidas (em instantes, detalhes das novas mortes confirmadas), chegando ao acumulado de 10.108. E a marca veio a galope. Em apenas 90 dias o Estado duplicou o número de vítimas. Na mesma semana, o Brasil superou a marca de 300 mil mortos.

Em 12 meses, o que mudou é que a pandemia se tornou mais intensa, novas variantes (e mais contagiosas) entraram em cena, os hospitais lotaram. O que não mudou: o discurso negacionista e descaso de algumas autoridades nos três níveis de governo Brasil adentro.

Por aqui, a pandemia começou com um intervalo de 125 dias entre a primeira morte e a milésima, mas chegou ao ponto de saltar de 9 mil a 10 mil em apenas 8 dias neste mês (veja no gráfico abaixo o tempo que levou para completar mais mil mortes).

EVOLUÇÃO DAS MORTES POR COVID-19 EM SC

Com unidades de terapia intensiva lotadas desde meados de fevereiro, e filas de espera por leitos vagos com mais de 300 pessoas, o ritmo de mortes diárias se acelerou sem precedentes desde que o Estado alcançou a marca de 7 mil vidas perdidas, em 21 de fevereiro.

Agora em março já são pelo menos 2.582 pacientes que não conseguiram vencer a luta contra o vírus, média de 1 morte a cada 14 minutos. E não é possível dizer quando o Estado atingirá o pico mais alto dessa curva, tampouco pode se prever quando a situação dará sinais de melhora.

Total de casos ativos tem ficado acima de 30 mil desde 24 de fevereiro

O total de casos ativos em Santa Catarina ainda é muito alto, tem ficado acima de 30 mil diariamente desde 24 de fevereiro. Nesta quinta-feira são 32.379. E parte desses pacientes podem precisar dos hospitais daqui a duas ou três semanas, caso os sintomas se agravem.

Como os hospitais já estão lotados – a média de ocupação dos leitos adultos nas últimas duas semanas é de 98% em todo o Estado –, o risco de não ser possível salvar vidas ainda é bastante alto.

Desde que ocorreu a primeira morte no Estado, de um homem de 86 anos, morador de Bombinhas, em 25 de março de 2020, o coronavírus tem provocado internação e mortes de um perfil mais abrangente, com os mais jovens sofrendo também as consequências.

Mortes por semana de ocorrência em SC

Especialista cita fatores para este momento

Vários fatores explicam essa aceleração. Entre eles, segundo o epidemiologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Fabrício Menegon, estão o surgimento de novas variantes mais contagiosas e agressivas, a circulação descontrolada da população e a falta de controle da pandemia pelos governos – federal, estadual e municipal -, responsáveis pela gestão da crise causada pela doença.

Perfil das mortes por coronavírus

– Não é só a balada clandestina que mudou o cenário epidemiológico. A culpa não está só nas aglomerações. O Estado perdeu o controle da pandemia, não tem mais condições (de controlar) ou não quer mais ter. Mas a responsabilidade é da gestão pública. São os governos que detêm o poder de direito para fazer as medidas e as barreiras de contenção – enfatiza o especialista.

Além disso, o epidemiologista também critica a adoção de “protocolos sem eficácia” pelos governos, que usaram a distribuição de remédios comprovadamente ineficazes no tratamento da doença, como o “kit Covid”, como medida de combate à pandemia:

Letalidade por faixa etária | Percentual de mortes entre os casos confirmados

– Esse cenário é fruto de um conjunto de estratégias que não levam em consideração os critérios mínimos de vigilância sanitária, como essas, baseadas em remédios que sobrecarregam o sistema hepático e renal, causando efeitos colaterais que depois precisam ser tratados no sistema de saúde.

Alta disseminação aumenta chance de novas variantes

Desde o início da pandemia, o Estado não tem conseguido atingir um nível diário de isolamento social acima de 50%. Isso só foi possível entre março e abril do ano passado, quando o governo estadual publicou decretos restringindo a circulação de pessoas e atividades não essenciais. Especialistas consultados pela reportagem são unânimes em afirmar que é preciso medidas de contenção do fluxo de pessoas para reduzir o número de casos ativos e gradativamente desafogar o sistema de saúde, que entrou em colapso no fim de fevereiro.

​Ainda em maio, Julio Croda, infectologista, pesquisador da Fiocruz e ex-diretor de Imunizações do Ministério da Saúde, afirmou à reportagem que as autoridades deveriam aplicar medidas mais restritivas sempre quando o índice de ocupação das UTIs superasse 70%. No entanto, ao ultrapassar 80%, medidas ainda mais rígidas são recomendadas, porque para alcançar a lotação máxima é questão de poucos dias.

Taxa de ocupação das UTIs Adulto do SUS

Santa Catarina atingiu 95% da ocupação de leitos adultos do SUS em 25 de fevereiro e as medidas tomadas pelo Estado (como restrições aos fins de semana) não surtiram efeito, pois os casos ativos continuaram num patamar alto e a fila de espera por leitos de UTI se mantém.

Pacientes internados em UTI no Estado - redes pública e privada

Crítico das medidas tomadas até agora pela maioria dos gestores públicos, o professor do Departamento de Saúde Pública da UFSC, Fabrício Menegon, afirma que os discursos dos governos vão na contramão do enfrentamento da pandemia, que deveria atuar, também, para o fortalecimento de uma consciência coletiva:

– Se os governos continuarem com discurso equivocado e dissonante de que a responsabilidade é de cada um, o cenário não vai mudar. O que barra o avanço do vírus é fortalecer o uso de máscaras, a higienização das mãos e o distanciamento.

Evolução da fila de espera por UTIs em SC

Além disso, a vacinação, que é a maior perspectiva para evitar a doença, completou 2 meses na semana passada, mas apenas cerca de 500 mil pessoas tomaram pelo menos uma das duas doses necessárias para imunizar a população contra o coronavírus. Elas representam menos de 20% dos 2,8 milhões de integrantes dos grupos prioritários a receber as doses.

Segundo o Estado, nesse caso é a inconstância do envio de doses por parte do Ministério da Saúde que tem dificultado acelerar a vacinação. Enquanto em campanhas regulares os municípios catarinenses conseguem aplicar 20 mil a 25 mil doses diárias, estão conseguindo apenas a média de 8 mil.

Casos ativos por mesorregião em SC

A demora pela vacinação não só preocupa pela aceleração do contágio e pelo aumento de mortes, consequência da contaminação, mas também porque favorece o surgimento de novas variantes em um contexto de descontrole da transmissão, como o de Santa Catarina, segundo explicou o presidente da Sociedade Catarinense de Infectologia, Fábio Gaudenzi, em entrevista ao Diário Catarinense no início deste mês:

– Seria um ano de boas notícias. Da vacinação em todos os países. Mas, ao mesmo tempo, tivemos um segundo semestre de 2020 com pandemia em descontrole, o que facilitou o surgimento de novas variantes, que são favorecidas por conta dessa replicação descontrolada do vírus. Quanto mais solto o vírus estiver, mais casos graves e óbitos vão existir, porque não temos tratamento eficaz para evitar. O objetivo é não adoecer.

Foto: Rogério Galasse / Futura Press / Folhapress
Fonte: NSC Total – DC – Por Cristian Edel Weiss / Por Clarissa Battistella